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sábado, 2 de fevereiro de 2019

Belém, 4 de Agosto de 1755: o Marquês de Pombal a seu irmão Francisco Xavier de Mendonça Furtado

     Meu Irmão do meu Coração.

     Uma das grandes utilidades públicas que trazem consigo as Companhias de Comércio é a de regularem as quantidades das mercadorias, que devem introduzir, de sorte que tenham uma respectiva proporção, com o consumo dos Países onde as tais mercadorias devem ser transportadas: Porque da falta desta justa proporção se segue necessariamente a ruína do Comércio dos Mercadores Nacionais, e a do Reino em beneficio dos Mercadores, e dos Países Estrangeiros.

     A razão é porque, comprando os particulares nacionais sem regra nem medida tudo quanto lhe querem fiar os Estrangeiros, introduzem de modo ordinário em um ano Fazendas que necessitam de três anos p.ª se consumirem. Ora como a esta redundância se vão acumulando anualmente as outras fazendas, que transportam as Frotas, e os Navios de Licença: Daqui se segue por que não podem vender com lucro, antes lhe é preciso fazê-lo com perda em tanta redundância: E se segue pela outra parte que os Mercadores Estrangeiros engrossam m.to mais do que deviam engrossar; vendendo de mais aos Particulares todas as fazendas supérfluas, que certamente não compra a Companhia; e exaurindo o cabedal do Reino em forma que se dele haviam de extrair Um milhão em dinheiro para lhe venderem o necessário, extraem mais Dois milhões do que vendem para ficar supérfluo, empachando as Lojas da América Portuguesa.

     Para se regular pois a Companhia que S. Maj.e acaba de estabelecer em forma que evite aqueles graves danos, é o mesmo Senhor servido que mandeis franquear aos Caixas da mesma Companhia nas duas Alfândegas do Grão-Pará, e Maranhão, todos os Livros de Abertura para deles tirarem as relações das Fazendas q. foram para esse Estado pela ultima Frota fazendo tudo o que vos for possível por que nas mesmas relações se incluam por um verosímil arbítrio todas as fazendas, que costumam entrar sem pagarem Direitos com a distinção das suas quantidades, e qualidades debaixo da proporção pouco mais, ou menos.

     Também S. Maj.e manda recomendar-vos q o Aviso que deve levar esta seja reexpedido com toda a brevidade, que couber no possível.

     E Eu torno a oferecer-me para servir-vos com o maior afecto.
     Deus vos G.de m.tos an s
   
Belém a. 4. de Agosto de 1755
Irmão m.to am.te vosso

Seb.m Jozeph

Nota - In Fritz HoppeA África Oriental Portuguesa no Tempo do Marquês de Pombal -- 1750-1777 (1970).  Sebastião José a explicar ao irmão a lei da oferta e da procura e o proteccionismo comercial... dias antes da fundação da Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão

quarta-feira, 8 de junho de 2016

16 de Maio de 1906: D. Carlos I a João Franco

I noute.
16 -- 5 -- 906
Meu querido João Franco

Tendo o Presidente do Conselho, Cons.º Hintze Ribeiro, acabado neste momento, por carta que acabo de receber e por motivos... que de viva voz te exporei, de depor nas minhas mãos a demissão do Ministério, e desejando eu que neste momento te encarregues da formação do novo ministério, desejo que aqui venhas falar-me, logo possas, e quanto mais cedo melhor.
Há muito a fazer e temos, para bem do País, que seguir por caminho diferente daquelle trilhado até hoje; para isso conto contigo e com a tua lealdade e dedicação, como tu podes contar com o meu auxilio e com toda a força que te devo dar.
Sempre teu
Amigo verdadeiro
Carlos R.


Cartas d'El-Rei D. Carlos I a João Franco Castello-Branco Seu Ultimo Presidente do Conselho
Lisboa, Aillaud & Bertrand, 1924.

Nota - Deve ter feito algum furor, em 1924, quando João Franco, um dos homens políticos mais odiados da História do Portugal contemporâneo, resolveu publicar e comentar as cartas que D. Carlos lhe enviara, desde o convite para formar gabinete, pelo impasse criado pelos partidos tradicionais, fautores do fim da monarquia portuguesa, que em breve eclodiria. Independentemente das intenções e autojustificações, o que interessa é o conjunto de cartas que revelam um rei que pouco tem que ver com o boneco, entre o pândego e torpe, que o republicanismo panfletário dele quis fazer.