6-I-1909
Meu bom amigo
Venho agradecer-lhe mt.º e mt.º o seu belo livro que li com imenso interesse. Sem concordar inteiramente com as doutrinas ali expostas achei um grande prazer intelectual em ver o modo como as expunha.
O seu sonho de educação integral tem para nós um defeito... o de ser mt.º caro!
Uma amiga minha que deixou agora o filho no colégio Des Roches pagou 900$000 adiantados por um ano!
Imagine o belo pai de família português, burocrata (em Portugal não há senão burocratas) e tendo 12 filhos (em Portugal ninguém que se preza tem menos de 12 filhos) e suponha-o educando os seus filhos num colégio assim, e triando-os de lá sabendo de tudo um pouco, mas não tendo capacidade de entrar na gloriosa carreira do Pai por falta de diplomas legais! Que horrível desastre!
Nós temos de criar uma educação nossa. Não a sonhada pelos utopistas da Grécia, não a imaginada pela fantasia humanitária de Rousseau, nem pelo amoralismo implacável do seu Nietzsche mas adaptada ao triste meio que só um século de trabalho incessante poderá ir lentamente modificando.
Que haja mt.os professores como o meu caro João de Barros e com certeza essa modificação para melhor será mais rápida.
Mas onde é que eles estão?
Muitos parabéns, apesar destas divergências que desculpará a uma velha amiga que já leva em tarefa de educar filhos sem pai, pelo seu livro que é mais uma luminosa afirmação de tranbalho, de talento e de devoção ao seu duro ofício de ensinar.
Sua amiga mt.º grata
Nota - Debate breve entre dois pedagogos, cujas idades se distanciavam em 34 anos (Maria Amália era de 1847; Barros, de 1881), a propósito do livro deste, A Escola e o Futuro (1908)
Uma amiga minha que deixou agora o filho no colégio Des Roches pagou 900$000 adiantados por um ano!
Imagine o belo pai de família português, burocrata (em Portugal não há senão burocratas) e tendo 12 filhos (em Portugal ninguém que se preza tem menos de 12 filhos) e suponha-o educando os seus filhos num colégio assim, e triando-os de lá sabendo de tudo um pouco, mas não tendo capacidade de entrar na gloriosa carreira do Pai por falta de diplomas legais! Que horrível desastre!
Nós temos de criar uma educação nossa. Não a sonhada pelos utopistas da Grécia, não a imaginada pela fantasia humanitária de Rousseau, nem pelo amoralismo implacável do seu Nietzsche mas adaptada ao triste meio que só um século de trabalho incessante poderá ir lentamente modificando.
Que haja mt.os professores como o meu caro João de Barros e com certeza essa modificação para melhor será mais rápida.
Mas onde é que eles estão?
Muitos parabéns, apesar destas divergências que desculpará a uma velha amiga que já leva em tarefa de educar filhos sem pai, pelo seu livro que é mais uma luminosa afirmação de tranbalho, de talento e de devoção ao seu duro ofício de ensinar.
Sua amiga mt.º grata
e sincera adora
M.ª Amália
Um abraço à Raquel
Cartas a João de Barros, Lisboa, Livros do Brasil, s.d.
(edição: Manuel de Azevedo)
Nota - Debate breve entre dois pedagogos, cujas idades se distanciavam em 34 anos (Maria Amália era de 1847; Barros, de 1881), a propósito do livro deste, A Escola e o Futuro (1908)
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